Água: O problema e a solução para nossos problemas
Desde pequeno eu tenho proximidade com a água. Durante a infância morei em Paulista (região metropolitana de Recife-PE), onde por muito tempo a minha diversão era ir à praia. Não havia problemas de precipitações intensas, falta de água, lançamento de esgoto ou nada do tipo. A minha relação com a água era o lazer, passar o dia na praia com minha família catando Tatuí e andando nos corais. Até hoje essas praias continuam balneáveis e bonitas.
Ainda novo, nos mudamos para o Jordão Baixo, (ainda não região metropolitana de Recife-PE). Como todo bairro popular, havia muitas pessoas e pouca infraestrutura. Nesse período, tive meu primeiro contato com o que apenas anos depois conheceria como problemas de drenagem urbana. Sempre que chovia, minha rua enchia de água. Havia canais que coletavam a água na porta das casas, que recebiam o esgoto (tratado por meio de fossa e filtro) das residências e que viraram verdadeiros rios quando havia eventos de precipitação intensa (as vezes só uma chuvinha já fazia efeito). O problema de drenagem urbana assola diversos bairros de Recife até hoje.
Durante a adolescência, em Maceió, minha família e eu tivemos uma experiência bem diferente com a água. Não havia problemas de drenagem, não havia praias próximas que pudéssemos caminhar até elas (sim, há locais em Maceió com pouco acesso às praias mais bonitas do Brasil), mas havia uma lagoa que dava pra ver com uma caminhada curta. Lá enfrentei problemas que até hoje nossos sistemas de saneamento oferecem, com a interrupção no abastecimento de água (até hoje lembro do meu pai acordar no meio da noite para bombear água para as caixas d’água) e a falta de esgotamento sanitário (não existia coletor nas ruas).
De vez em quando havia necessidade de bombear a fossa e o sumidouro, o cheio não era nada agradável.
Algo curioso que acontecia nessa época era o mal cheio existente na lagoa Mundaú, que por algum motivo mágico (naquela época não sabia o que era) acontecia apenas no verão. Jogando bola no final da tarde, era possível puxar ar e “cheirar” um odor bem conhecido, de esgoto in-natura, que se espalhava por quilômetros ao redor da lagoa.
Foi meu primeiro contato com qualidade da água e saneamento. Hoje já compreendo os impactos que o ciclo hidrológico e a população flutuante causam em regiões turísticas. Atualmente a lagoa ainda sofre com estes problemas de qualidade da água (assoreamento e lançamento de esgotos sem tratamento) e o meu bairro (assim como vários na região) continuam sem saneamento adequado.
Por fim, na minha fase adulta, convivo novamente com problemas de drenagem urbana e qualidade da água em Porto Alegre. Problemas um pouco mais complexos do que apenas coletar e tratar esgoto ou adotar medidas construtivas contra cheias. Aqui vivenciamos uma dinâmica climáticas bem mais intensa, com ciclos (quase) bem definidos e estações caracterizadas por problemas ambientais diferentes. Não há população flutuante nem praias, mas temos uma cidade que cresce rapidamente e um corpo hídrico que recebe contribuições de diversas bacias hidrográficas (Lago Guaíba).
As condições climáticas levam a problemas de abastecimento elétrico e/ou de água, problemas no trânsito e diversos outros. Não vivenciei um histórico longo na cidade, mas quem vive aqui a mais tempo comenta que esses problemas são recorrentes, históricos.
Ao longo da minha curta jornada vivenciei diversas fases e minha relação com água mudou. A evolução da nossa forma de lidar com a água é lenta. Vivenciei problemas de saneamento e drenagem urbana no início da vida, e mesmo passados quase 40 anos estes problemas continuam, nos mesmos locais. Cheguei a conclusão que os problemas acabam se repetindo, muitas vezes por políticas públicas ineficazes e em outras vez devido a características próprias do ciclo hidrológico. Tive a sorte de trabalhar com o prof. Carlos Tucci durante meus tempos como sócio na empresa de consultoria dele.
Um episódio (de vários) que me chamou atenção foi uma entrevista que ele participou onde questionaram: Quais são os desafios da hidrologia para os próximos anos? O prof. Tucci com toda a paciência e articulação que possui, respondeu: Os mesmos dos últimos 20 anos (hehehe). Uma busca rápida no google sobre problemas relacionados a água e encontramos um artigo de 2008 (quase os vintes anos que o prof. Tucci comentou), assinado pelo prof. José Galizia Tundisi, indicando que o problemas e soluções relacionados a recursos hídricos. É interessante observar que tudo que ele comenta nesse documento, continua sendo válido e ainda não solucionado atualmente.
Vivemos num país onde temos abundância de água em alguns locais e falta dela em outros. Temos água com qualidade disponível para beber direto da fonte em alguns pontos e corpos hídricos enormes com milhões de litros de água com qualidade tão baixa que nem o uso para dessedentação animal é indicado. Ter muita água disponível, mas em baixa qualidade não nos serve. Da mesma forma, ter alta qualidade, mas pouco volume também é ruim.
Outro problema relacionado com água é que suas características não são permanentes no tempo. Assim como no mercado financeiro, onde um investimento de sucesso no passado não significa um investimento de sucesso no futuro, o cenário hidrológico passado não garante a disponibilidade hídrica nem as condições de qualidade futuras. Esta insegurança hídrica é um dos motivos (excluindo as ingerências, claro) que nos faz ter problemas repetidos por tanto tempo e sem soluções eficazes. O cenário climático (e por consequência hidrológico) sofre alterações de longo prazo que podem ser cíclicas.
Então problemas de estiagens que aconteceram em décadas passadas podem acontecer novamente em períodos futuros (o contrário também é válido, com períodos de precipitação intensa assolando anos específicos em determinada região).
Isto resulta em gestores ambientais tendo que tomar decisões olhando para o futuro, mas sem esquecer do que aconteceu no passado. O que é perfeito! Porém qual deve ser o cenário mais relevante para a tomada de decisão? Devemos salvar disponibilidade hídrica em uma bacia pensando que há 30 anos atrás teve uma estiagem e ela pode ocorrer novamente? Devemos liberar o desenvolvimento econômico e a ocupação de uma área no nosso município só porque nunca alagou?
Celebramos o dia da água e reconhecemos sua importância pra todos nós. Apesar disto, continuamos vivenciando problemas repetidos. Algumas soluções que citei são difíceis de se implementar, mas outras não deveriam ser tão complexas (saneamento adequado, por exemplo). Os recursos hídricos (pensando como um recurso a ser utilizado não como água a ser preservada) podem ser a fonte de problemas quando gerenciados de maneira errada. Mas não há como negar que nossa vida seria bem mais complicada se este recurso não estivesse disponível (basta vivenciar um pouco do que o povo sertanejo sobre ao passar meses sem chuva).
O X da questão é: Estamos fazendo tudo que podemos para manter este recurso disponível, em quantidade e qualidade, para todos?
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