Blog da EcoNumérica

O dilema da infraestrutura portuária no Brasil: entre a expansão e a natureza


Nos últimos anos, o Brasil tem retomado com força os investimentos em infraestrutura logística, e os portos estão no centro dessa agenda. A pauta é estratégica: ampliar a capacidade de exportação de grãos, reduzir gargalos na cadeia logística e atrair investimentos privados.

No sul do país, por exemplo, projetos para novos portos em Santa Catarina (Novo porto em SC: Coamo investe em terminal de R$ 30 bilhões para movimentar 10 milhões de toneladas por ano) e no Rio Grande do Sul (Projeto de porto de R$ 6 bilhões no Litoral Norte avança em meio a controvérsias | GZH) estão avançando rapidamente, impulsionados por discursos de modernização, competitividade e crescimento regional.


Mas esse entusiasmo — legítimo do ponto de vista econômico — traz consigo um velho problema mal resolvido: como conciliar o avanço da infraestrutura pesada com a conservação dos sistemas costeiros frágeis?


A zona costeira brasileira é, ao mesmo tempo, porta de saída das exportações e berço de ecossistemas únicos. São áreas de transição, altamente dinâmicas, onde manguezais, estuários, dunas e recifes desempenham papéis cruciais no controle da erosão, no equilíbrio sedimentar e na biodiversidade marinha. Ao modificar esses sistemas com estruturas rígidas, como quebra-mares, canais dragados e aterros, abrimos caminho para desequilíbrios— alguns dos quais só se manifestam anos depois, quando o porto já está operando.


Além disso, há o fator climático. A elevação do nível do mar, o aumento da frequência de tempestades costeiras e a intensificação dos regimes de vento e ondas tornam obsoletos alguns pressupostos de engenharia tradicional. Isso significa que as soluções que funcionaram no passado podem se tornar caras, ineficientes ou mesmo inviáveis diante do novo contexto climático.

Nesse cenário, Soluções Baseadas na Natureza (SBNs) surgem como alternativa promissora — mas ainda pouco explorada. A proposta não é “substituir” a engenharia tradicional, mas redesenhar a lógica do projeto, incorporando processos ecológicos ao funcionamento da infraestrutura. O problema é que, em um ambiente institucional ainda marcado pela urgência da entrega e pela fragmentação entre órgãos ambientais e setoriais, as SBNs tendem a ser vistas como complicadoras — quando, na verdade, poderiam ser aliadas estratégicas.

Estamos preparados para os portos que estamos projetando?


É fácil cair na tentação de pensar que a engenharia resolve tudo com escala. Que basta dragar mais, construir mais alto, usar concreto mais resistente — e venceremos o mar, o tempo e o ambiente. Mas a realidade tem sido implacável com essa lógica.


Portos mal integrados ao ambiente têm se tornado verdadeiras armadilhas financeiras: se tornam obras que exigem dragagens frequentes. Além de outros problemas relacionados ao Rompimento de taludes por falta de controle da dinâmica sedimentar, erosão costeira transferida de um trecho para outro. São reações em cadeia que levam ao questionamento da viabilidade do investimento original — e que, muitas vezes, recaem sobre o poder público, mesmo em empreendimentos privados.


Do ponto de vista ambiental, a situação pode se tornar mais grave ainda: a perda de função ecológica de ecossistemas costeiros não é apenas um “efeito colateral ambiental”. Ela representa a perda de serviços ecossistêmicos que poderiam estar atuando a favor do próprio porto: amortecendo ondas, estabilizando sedimentos, reduzindo custos de manutenção. Ao eliminar essas funções, criamos um ciclo vicioso onde o porto se torna cada vez mais dependente de intervenções corretivas, caras e contínuas.

Projetar com a natureza: Seria as SBNs para portos uma possível solução?


Na EcoNumérica acreditamos em entender como água, sedimentos, marés, ecossistemas e estruturas interagem ao longo do tempo. Buscamos iniciar estes estudos com a pergunta certa: qual é o comportamento natural desse sistema e como ele responderá à implantação do porto nos próximos 10, 30 ou 50 anos?


Combinamos modelagem hidrodinâmica e hidrossedimentológica de alta resolução, inteligência artificial aplicada a séries históricas e previsões climáticas, e análise quantitativa de cenários usando modelos existentes e autorais. Essa base técnica nos permite explorar soluções que integrem engenharia tradicional e processos ecológicos utilizando ferramentas customizadas, tornando engenharia e natureza um ambiente único, em vez de colocá-los em conflito.

Soluções Baseadas na Natureza (SBNs) aplicadas ao setor portuário já são realidade em diversos contextos internacionais. Entre os exemplos mais relevantes, destacam-se:

  • Recifes artificiais e ecobarreiras para atenuação de ondas e proteção de estruturas portuárias, promovendo também a biodiversidade;
  • Manguezais e marismas reabilitados como zonas de amortecimento frente a ressacas, com benefícios diretos sobre a estabilidade de margens e redução de dragagens;
  • Reutilização benéfica de sedimentos dragados, não mais tratados como rejeito, mas como material de reconformação costeira, criação de ilhas vegetadas ou barreiras naturais;
  • Melhoria ecológica de estruturas rígidas — como cais e quebra-mares — por meio de unidades modulares que favorecem o crescimento de organismos marinhos e aumentam a complexidade estrutural do habitat;
  • Sistemas híbridos, que combinam elementos naturais com estruturas de engenharia (como taludes vegetados com contenções discretas), permitindo desempenho técnico e ganhos ambientais simultâneos;
  • Redesenho de layout portuário para aproveitar dinâmicas naturais de sedimentação e energia de ondas, reduzindo a necessidade de intervenções corretivas.

Nosso papel é quantificar esses efeitos. Mostrar, com dados, como uma faixa de manguezal reduz a energia de onda incidente sobre um talude; como a adoção de recifes artificiais altera padrões de sedimentação; ou como o reposicionamento de um canal de acesso diminui a recorrência de dragagens.

Mais do que alternativas “verdes”, essas soluções podem ser mais eficientes no longo prazo. Muitas vezes, têm menor custo operacional (OPEX), maior vida útil e são elegíveis para financiamento climático ou compensações ambientais. Ao incorporar essas estratégias desde a concepção, ajudamos nossos clientes a tomar decisões com maior previsibilidade, legitimidade e resiliência. Projetamos infraestrutura portuária com inteligência ecológica. Não porque é bonito — mas porque é estratégico.

Entre em contato e faça parte da nossa rede de clientes e parceiros! 

Nossa empresa compreende as necessidades e os objetivos de nossos clientes para seus usos de recursos hídricos. Valorizamos a construção colaborativa dos nossos serviços garantindo que o resultado atenda aos seus desejos. Integrando as necessidades identificadas com as melhores soluções técnicas disponíveis, superamos as expectativas de nossos clientes e fortalecemos nosso relacionamento de longo prazo.  

TAGS

CATEGORIES

Blog

Comments are closed