Tempo de retorno: A realidade “desconhecida”​ dos rios

Quando pensamos em hidrologia e escoamento de rios há um conceito técnico que usualmente é desconhecido dos que não possuem a formação na área: o tempo de retorno. Esse conceito indica que um evento hidrológico (como cheias ou secas em rios) possui uma probabilidade de ocorrência em um determinado período de tempo. Ou seja, aquele rio que enche e transborda retirando as pessoas de suas casas ou aquela seca que interrompe o uso das águas de um rio são eventos recorrentes, que podem acontecer novamente em algum momento.

Recentemente me deparei com um artigo no portal G1 da globo onde o leito de um rio ficou a mostra e foi possível encontrar inscrições feitas em suas bordas. Estes registros assustadores são exemplos práticos do que é o tempo de retorno em situações hidrológicas extremas. Para o caso específico em que a matéria foi realizada, o rio Elba (que nasce na República Tcheca, corre pela Alemanha e deságua no Mar do Norte) apresentou períodos de estiagem que levaram o rio a níveis baixos em diversos anos (segundo a reportagem: 1417, 1616, 1707, 1746, 1790, 1800, 1811, 1830, 1842, 1868, 1892 e 1893).

O tempo de retorno é um conceito que se aplica não apenas as estiagens ou secas, mas também as enchentes. Recentemente, o Vale da Morte, uma região desértica na Califórnia, também apresentou eventos de cheias que não são esperados na região. Neste caso em específico, o evento é tão raro que espera-se que ele tenha uma probabilidade de ocorrência de apenas 0,1% em um determinado ano.

Mas e as mudanças climáticas?

É comum associar eventos hidrológicos extremos como as secas e cheias que ocorrem naturalmente com as mudanças climáticas que são observadas atualmente. De fato, existe um impacto direto do clima sobre o regime hidrológico. Contudo, este impacto não é responsável por criar novos períodos de cheias nem novos períodos de seca, estudos recentes mostram que os novos cenários climáticos estão intensificando os eventos hidrológicos, não se tornando responsáveis por novos eventos.

Porque isto é um problema

Os eventos climáticos acabam intensificando eventos hidrológicos naturais, recorrentes em qualquer bacia hidrográfica ou rio. Esta intensificação nos leva a falhas nos sistemas de controle atuais, projetados há anos e que consideravam eventos hidrológicos com intensidade conhecidas, ou seja, com tempo de retorno já estabelecido. Sistemas de drenagem urbana ou sistemas de abastecimento de água são projetados considerando os eventos climáticos e hidrológicos conhecidos até o momento de seu dimensionamento. A perturbação no ciclo hidrológico que está ocorrendo agora causa uma ruptura nestes estudos, provocando uma redução da eficácia dos sistemas e causando as falhas que estamos vivenciando no momento.

Tecnicamente, há soluções que consideram previsões climáticas futuras e regimes de precipitações diferentes dos já observados no passado. O problema nestas previsões é que, por mais robusto que seja a metodologia e o método considerado, o futuro é algo difícil de ser adivinhado ou estimado. Logo, no máximo é possível reduzir o risco mas não eliminá-lo de fato.

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